Ultraprocessados: um alerta do Brasil para o mundo

Um novo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), alerta que na América Latina as vendas de alimentos e bebidas ultraprocessados cresceram em um ritmo superior ao de outros alimentos. Recentemente, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também publicou um documento no qual lista e analisa toda a literatura científica revisada por pares sobre os efeitos à saúde dos alimentos ultraprocessados.

Os estudos mostram associação plausível significativa e gradual de consumo de produtos ultraprocessados com a ocorrência de algumas doenças crônicas, como obesidade, e desfechos relacionados com a obesidade, doença cardiovascular e metabólica, câncer de mama, todos os tipos de câncer, depressão, transtornos gastrointestinais, fragilidade no idoso e morte prematura.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) foi outra organização global que defendeu recentemente a inclusão de alertas em produtos alimentícios ultraprocessados. O envolvimento das organizações supranacionais é reflexo da prevalência dos ultraprocessados na alimentação humana.

Ultraprocessados são um grupo de alimentos e bebidas proposto pela primeira vez em 2009 no Brasil como parte do NOVA, um sistema de classificação dos alimentos de acordo com a extensão e o propósito do seu processamento.

Neste mesmo sentido, as diretrizes brasileiras são consideradas exemplares pelas instituições globais, em função da decisão pioneira de preconizar que o consumo desta categoria de alimentos seja evitado.

“Os primeiros estudos sobre alimentos e bebidas ultraprocessados foram feitos no Brasil. Nos primeiros três anos, identificamos a associação do consumo com a obesidade e, a partir de então, o conceito começou a ser usado em vários países do mundo”, contou ao Medscape o Dr. Carlos A. Monteiro, médico e professor titular de nutrição na faculdade de saúde pública da Universidade de São Paulo (USP).

“Desde quando a classificação foi proposta, há menos de 10 anos, quase 300 artigos foram publicados sobre alimentos ultraprocessados, dos quais 20% são brasileiros. No início foram feitos estudos transversais, e nos últimos três anos começaram a aparecer os estudos de coorte. Na França, mais de 100.000 pessoas estão sendo acompanhadas. Recentemente, o National Institutes of Health (NIH) fez o primeiro ensaio clínico controlado e randomizado com este tipo de alimento nos Estados Unidos.”

O Dr. Carlos frisou que o conceito de ultraprocessados é importante, porque identifica uma grande família de alimentos cada vez mais consumida em todos os países do mundo.

“É preciso estar atento, não apenas em cuidar que as pessoas consumam menos refrigerantes ou guloseimas. Os produtos ultraprocessados algumas vezes parecem saudáveis, como as barras de cereais integrais. E, o mais grave é que substituem outros alimentos mais saudáveis. As pessoas deixam de consumir alimentos frescos, por exemplo.”

Fonte: Medscape/dez 2019

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