A droga que pode revolucionar a luta contra o HIV

O avanço contra o HIV é uma das maiores conquistas da pesquisa biomédica moderna. Há quatro décadas ser diagnosticado com HIV era quase uma sentença de morte. Graças às terapias antirretrovirais, a Aids foi controlada e a propagação do vírus reduzida. Ainda assim, em 2023, 1,3 milhão de pessoas foram infectadas, mais de 3.500 por dia, quase 150 por hora. Detecção tardia, dificuldade no acesso ao tratamento e a persistência do vírus no organismo tornam necessário o uso contínuo de medicamentos. Em 2023, quase 40 milhões viviam com HIV, e 630 mil morreram devido à Aids.

Em junho de 2024, Moupali Das, líder de prevenção ao HIV na Gilead Sciences, recebeu os resultados de um ensaio clínico no sul da África e em Uganda com lenacapavir, um novo medicamento injetável. A droga permanece no organismo por impressionantes seis meses. No primeiro ano do estudo, mais de 2.000 jovens garotas receberam duas injeções e nenhuma foi infectada com HIV. Três meses depois, um segundo ensaio com mais de 3.000 homens, mulheres trans e pessoas não binárias que fazem sexo com homens mostrou 96% de eficácia.

Durante quase doze anos, a Gilead comercializou a pílula Truvada como tratamento PrEP (profilaxia pré-exposição), que demonstrou ótimo desempenho em testes, mas enfrentou desafios de adesão (uso diário) e estigma social. Em 2021, a ViiV Healthcare lançou uma injeção PrEP de eficácia de dois meses, mas com baixa adoção. Assim, a perspectiva de apenas duas injeções por ano com a mesma (ou maior) eficácia se mostrou revolucionária. Em 18 de junho de 2025, o FDA aprovou lenacapavir para PrEP, sinalizando uma nova era promissora.

A Gilead já investiu pesado no desenvolvimento desse medicamento, trabalhando contra o ceticismo inicial e contra cortes em programas globais de saúde e auxílio internacional. Em 2024, fechou acordo com seis fabricantes de genéricos para oferta em 120 países de baixa renda: os genéricos só estarão prontos em alguns anos, mas até lá, a Gilead venderá o lenacapavir a preço de custo. Também foi criada uma parceria entre PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids), o Fundo Global, a Fundação Gates e outros para levar o novo PrEP a 2 milhões de pessoas nos primeiros três anos.

Entretanto, existem desafios: cortes nos programas como o PEPFAR, que historicamente viabilizaram o acesso à prevenção e tratamento em muitos países, dúvidas sobre reembolso por seguradoras, adesão comunitária e acesso em países de renda média. Um estudo na conferência sobre HIV/Aids em São Francisco (março de 2025) sugere que doses maiores podem prolongar a proteção para mais de um ano, mas os cortes em pesquisa e saúde pública comprometem a disseminação dessa inovação.

Sem dúvidas, o lenacapavir representa um salto tecnológico histórico na prevenção do HIV, sua eficácia é quase tão alta quanto uma vacina, e com aplicação semestral. Mas seu sucesso depende não só da ciência, mas do financiamento, das políticas públicas e da mobilização global para que chegue às pessoas que mais precisam.

Fonte: The New Yorker

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